Esta semana vimos a Unilever rejeitar a proposta de compra (por U$143 bn) realizada pela concorrente Kraft-Heinz, no que seria a segunda maior operação da história atrás somente da compra da Mannesmann pela Vodafone por U$183 bn. A notícia não trouxe surpresa ao mercado, que já está acostumado com a metodologia hostil utilizada pelos famosos controladores da Kraft-Heinz (o fundo de private Equity 3G e o multimilionário Norte-Americano Warren Buffet no comando do fundo colosso Berkshire-Hathaway) em processos de fusão e aquisição de empresas e sabiam que a Unilever, uma empresa que possui uma proposta filantrópica nas suas origens e que sempre propagou o crescimento sustentável dos seus negócios não pensaria 2 vezes em rejeitar a mesma até porque o prêmio em relação a valorização atual de mercado oferecido foi de somente 18%.
Como todos sabemos esta primeira proposta já veio pronta para ser rejeitada e as próximas semanas deverão trazer novidades pois dificilmente os sócios da 3G e Warren Buffet recuarão do desafio aberto,
O clash cultural que tal operação apresenta e dificuldade que se cria para gerar o acordo final no entanto não limita o movimento global de consolidação dos principais players em diferentes mercados, na construção de campeões globais. Tal situação levanta a discussão de qual a melhor maneira de uma empresa defender o interesse de longo prazo do atual grupo controlador, como no caso atual da Unilever, uma vez que o capital social das empresas se encontra dissolvido entre diferentes grupos de interesse e nem sempre a cultura da empresa poderá prevalecer diante do eminente ganho imediato de capital que tal processo pode trazer.
A Kraft-Heinz está aproveitando o momento pós Brexit que levou a desvalorização do valor da Unilever em U$ devido a perda de valor de parte de suas ações cotadas em Libras na Bolsa Londrina. Também os controladores trazem consigo o case de sucesso que possuem em carteira de fusões e aquisições realizadas nos últimos anos. Porém a discussão está em torno da metodologia de trabalho utilizada pelo grupo interessado a qual foca exclusivamente no corte efêmero de custos em todas novas estruturas que assumem.
Esta tática tem sido bem sucedida pois os resultados têm sido imediatos, com as empresas adquiridas apresentando melhorias financeiras consideráveis. A Heinz por exemplo, dois anos após ser adquirida, apresentava uma melhoria de 10% na sua margem de lucratividade. Porém os caminhos trilhados não são os mais convencionais, no caso da Heinz chegou ao corte total do orçamento de investimento para que dali em diante cada novo investimento fosse devidamente discutido e analisado pelos novos controladores.
Culturalmente o impacto de tal mudança dificulta a permanência dos maiores talentos da empresa adquirida que não aceitam o modelo do novo controlador. Historicamente o trio brasileiro por trás da 3G capital sabe muito bem disso pois enfrentam tais situações desde os anos 80 quando começaram sua trajetória no Brasil com as primeiras operações de fusão e aquisição. Por esse motivo, hoje isso já deixou de ser um problema para os que contam com uma legião de administradores formados dentro da cultura por eles criada nas mais diferentes empresas em que o grupo possui participação, basta ver que os CEOs por eles apontados para Burger King, AB Inbev, Kraft Heinz são ex administradores de operações menores do conglomerado.
Certa é a conclusão de que os impactos geopolíticos no equilíbrio macroeconômico global estão ajudando a redesenhar o mapa corporativo e que modelos de gerenciamento de sucesso de grandes empresas irão fortalecê-las para se consolidarem globalmente.